No país de faz de contas…: JLO SEM MORAL ATÉ PARA SER MORALISTA
A 8 de Setembro de 2018, na tomada de posse como Presidente do MPLA, João Lourenço não permitiu que o Congresso da passagem de testemunho fosse uma despedida suave de José Eduardo dos Santos. Basta olharmos para o seu discurso no encerramento dos trabalhos, quando Lourenço apontou os problemas de Angola — os mesmos do partido que governa o País desde a independência, em 1975 — e não tentou sequer suavizar as culpas do seu antecessor na liderança do partido e do País.
“Temos todos consciência de que só construiremos um futuro melhor se tivermos a coragem de corrigir o que está mal e melhorar o que está bem”, disse, antes de ter indicado os males: “a corrupção, o nepotismo, a bajulação e a impunidade que se implantaram no nosso país nos últimos anos e que muitos danos causam à nossa economia, porque minam a reputação e a credibilidade do País”, dizia.
Passados quase três anos, a ideia , claro que discutível, é a de que estamos perante um presidente moralista sem moral. E não faltam exemplos.
No que concerne ao combate à corrupção, o que fez até agora não tem reflexos na vida do povo angolano. Pior é que os que abocanharam a riqueza do País, de forma ilícita, continuam a não devolver, mantendo-se de pedra e cal à grande e à francesa, quando a maioria prevalece indigente. Falamos de Manuel Vicente, Manuel Hélder Vieira Dias Júnior ‘Kopelipa’, Leopoldino Fragoso do Nascimento ‘General Dino’ e Isabel dos Santos. São apenas alguns exemplos.
Assiste-se a um esquema na selecção dos que devem ou não ser responsabilizados, com a “evidência mais evidente” a residir ainda no caso do antigo ministro dos Transportes, Augusto Tomás, quando esperávamos que Zenu tivesse o mesmo destino. O filho de JES foi, simplesmente, colocado em liberdade com uma condenação da fachada e o seu amigo Jean-Claude Bastos de Morais sumiu do mapa, como se nunca tivesse passado por Angola, num misterioso acordo com a justiça.
Os supostos golpes dados a Isabel dos Santos, que não passam dos arrestos dos seus bens, estão, na sua maioria, a beneficiar Portugal em detrimento de Angola. É importante deixar claro que ver Isabel perder tudo, incluindo os seus cabelos, não importa ao povo angolano. Assim como não importa ao pobre angolano ver Manuel Vicente, Kopelipa ou General Dino perderem para o Estado os vários grupos de comunicação social falidos. São, antes, passivos para o Estado e, no final do dia, o povo é que vai pagar os funcionários desses grupos.
O que sobressai neste processo é que JLo pretende o domínio da comunicação social para melhor governar, uma vez que as figuras acima referenciadas têm empresas com rendimentos milionários, fruto do desfalque que fizeram ao País, mas continuam intactas.
No capítulo da impunidade, assistimos a um PR a defender MV, como se fosse um caso de salvação nacional, numa estratégia , tudo indica, com vista para as eleições de 2022. Isto se tivermos em conta que Manuel Vicente poderá ser um dos maiores patrocinadores da sua campanha. Neste particular, inserimos o nome de Álvaro Sobrinho, que se tornou num dos amigos íntimos do PR.
Por fim, o nepotismo, outro dos males apontados pelo PR, que para o mesmo, o general que humilhou o seu antecessor ao escorraçar todos os filhos com cargos públicos ou negocio com o Estado. Resultado: fugiram de Angola, alegando perseguição.
Pensávamos, naturalmente, que tudo isso fazia parte do passado, daquele passado para esquecer mesmo. Mas lá surgiu a informação de que o tal de ‘Presidente – moral’ deu luz verde à nomeação da sua querida filha Cristina Dias Lourenço para o cargo de administradora executiva da Bolsa de Dívidas e Valores de Angola (Bodiva). É, simplesmente, vergonhoso por tudo o que escrevemos, denota que Jlo está a perder o campeonato da credibilidade.
Prefiro não entrar na discussão sobre questões jurídicas, em que podia evocar o princípio da probidade, para afirmar que o País está diante de uma “ilegalidade” aos olhos da lei da coerência.
Por outras palavras, quando somos presidente ou ministro em Angola não devemos permitir que ninguém da sua família directa seja membro do executivo ou, para o caso, da administração de uma Bodiva. Assim, JLo é ou não moralista sem moral, e em 2022 deve ou não gostar?