Um Justo crescimento a despontar no Dubai: Empresário ergue império financeiro e mostra que é possível contornar barreiras

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António Lissimo Laurindo, mais conhecido por Justo, é um filho do Huambo que, aos 40 anos, vai dando lições de vida a muitos angolanos, mostrando que, às vezes, é possível empreender sem a conhecida bênção dos corredores do poder. É possível avançar sem que sejamos herdeiros, filho de ricos ou saqueadores do erário. Depois de ter investido em Angola, nas áreas de construção civil, restauração e automóvel, aqui, mediante uma rent-a-car e agência de viagem, imigrou para os Emirados Árabes Unidos, tentando contornar dificuldades impostas pelo sistema político. Em seis meses, com a mesma perspicácia e sentido empreendedor, criou os mesmos negócios no Dubai, sem ter contado com o apoio da representação diplomática de Angola. É um compatriota que merece o nosso reconhecimento. 

A residir com a família, o jovem empresário angolano António Lissimo Laurindo abriu ali uma agência de viagem, uma rent-a-car, oficina e stand de venda e compra de automóveis, garantindo mais de 20 empregos a cidadãos daquele pais árabe.

Os empresários no nosso país não têm apoio, não temos incentivos e, pelo contrario, somos muitas vezes combatidos por isso tive que sair do conformismo para procurar novos desafios”

Com a sua agência de viagem, Justo tem tratado vistos de angolanos que pretendem ir ao Dubai em turismo, negócio ou para estudar. Tem uma equipa de acompanhantes que realiza os pagamentos de reservas dos melhores e mais baratos hotéis, assim como de pagamento de mercadorias e estes serviços têm os cidadãos dos Emirados Árabes Unidos que se deslocam para Angola.

A rent-a-car serve para apoiar os turistas angolanos, e não só, naquele país, onde circulam com toda a segurança, em companhia do condutor, um verdadeiro guia turístico e tradutor. 

A stand de automóvel serve para facilitar os angolanos que pretendam comprar viatura no Dubai, garantido a aquisição e transportação até ao país de destino, assim como transporte de contentores e rolos de cargas de palhetes de avião.  Mesmo no exterior, portanto, continua a servir os seus compatriotas. 

Com mais de 150 empregados, Justo diz que a sua ida para o Dubai também está ligada a dificuldades encontradas nos últimos tempos em Angola . “Os empresários no nosso país não têm apoio, não temos incentivos e, pelo contrario, somos muitas vezes combatidos por isso tive que sair do conformismo para procurar novos desafios”, disse.

“Gostaria de ser reconhecido no meu país”

Sobre o futuro de Angola no ramo empresarial, mostra-se bastante céptico, assinalando que “temos muito trabalho, precisamos de nos unir, sermos honestos, termos sentido  patriótico para transformarmos o nosso país para melhor”.

“Não tive apoio do consulado, todos me viraram as costas, mas contei com o apoio do ser humano que é a família, minha mulher Patrícia Ramos dos Santos que tem sido a minha verdadeira fortaleza, pois quando tive acidente e fiquei na cadeira de roda 1 ano e três meses ela esteve lá sempre comigo e meus filhos, aqui não temos papoite e muito menos tios na cozinha”, frisou.

“Quero transmitir que um dos segredos para se ter sucesso é a disciplina, coragem, paciência, persistência e amor pelo que se faz”.

Aquele empresário, numa espécie de gratidão, disse que, entre os familiares, não esquece o seu irmão mais novo Cornelio Capitango Laurido de 26 anos de idade, que o recebeu dos seus pais, quando tinha apenas 12 anos, hoje é formado e Director Executivo do Grupo Frota Justo. ”O meu irmão Doutor Cornelio tem correspondido com as expectativas, tenho muito orgulho dele, pois muita coisa do que temos conseguido é graças à sua inteligência, dedicação e humildade”, reconheceu. 

Justo deixa claro que é apartidário e o seu principal objectivo é ajudar Angola a desenvolver e ajudar os jovens empreendedores a perceberem o que é ser um empreendedor de verdade. 

“Quero transmitir que um dos segredos para se ter sucesso é a disciplina, coragem, paciência, persistência e amor pelo que se faz”. 

Justo já não tem os pais (perdeu a mãe recentemente) e diz que deve tudo a eles, uma vez que, como reconhece, “ensinaram-me tudo que sei hoje”. 

Com lágrimas nos olhos recorda a mãe Rosalina Ngueve como a sua luz, inspiração, mulher batalhadora, humilde que tudo fez em parceria do seu companheiro António Laurindo para criar com dignidade os 9 filhos, hoje apenas sobraram sete, pois dois dos quais já são também falecidos.

“Daria tudo para ter minha mãe de volta, minha mãe era meu tudo, hoje carrego na vida todos os seus ensinamento e uma frase que ela sempre dizia-me: “Meu filho, você vai longe. Precisas de dizer apenas em tudo que tiveres de fazer, Maria passa na frente”, recordou aos prantos.

Por outro lado, aquele empresário, também influenciador digital, diz que o seu maior sonho é ser reconhecido em Angola, onde futuramente quer investir e ajudar os seus conterrâneos da província do Huambo a atingirem o seu nível empresarial ou superior . “Quero ajudar no desenvolvimento, em particular a província do Huambo, pois eu amo as minhas origens e jamais me esquecerei delas”.

O novo Valentim Amões?

António Lissimo Laurindo é um empreendedor angolano, nascido aos 17 de Dezembro de 1982, na província do Huambo que, em 1994, deixou a sua terra natal para avisar a morte do tio aos familiares que estavam em Luanda, e acabou por instalar-se na capital, onde deu os primeiros passos para erguer o seu império.

Aos 12 anos, começou a trabalhar como auxiliar de limpeza de mercados e feiras no bairro Rocha Pinto e, posteriormente, fiscal do mercado. Um ano depois, passou a trabalhar como taxista, após ter comprado o seu primeiro carro, um Toyota Hiace, que lhe rendeu um lucro bastante favorável.

Determinado e focado nos seus objectivos, em 2002, já com 20 anos, conseguiu um total de 42 Hiace´s, revendidos em 2007, após a morte de Justo Laurindo, seu irmão mais novo e companheiro de negócio.

Teve durante o seu percurso várias quedas, mas nenhuma capaz de travar a sua força e determinação para ultrapassar os obstáculos da vida.

“Caí e levantei ainda mais forte, e percebi que sou uma pessoa com luz divina”, disse o criador do famoso “Pão Justo”, hoje com uma rua com o mesmo nome, no Rocha Pinto, e várias músicas cantadas por músicos renomados em forma de homenagem.

“Não há dinheiro que compre o que eu consegui. Há pessoas que deram a vida pelo país e permitiram que hoje vivêssemos num ambiente digno, de paz, mas não têm uma rua com o seu nome.

Eu tenho isso, o “Pão Justo” e várias músicas a retratarem a minha vida”, conta, visivelmente emocionado.

Entre os seus contributos para o benefício da sociedade, 

destaca-se a asfaltagem, com meios próprios, da rua 22 do Kifica, no distrito do Benfica, onde reside em Angola. 

Actualmente, tem mais de três condomínios, várias empresas de construção civil, uma rent-a-car com automóveis de luxo para casamentos, snack-bar, pastelaria, botequins, salão de beleza, barbearias.

“Apesar disso, ainda não me considero empresário, mas um empreendedor que contribui para o bem-estar socio-económico do país, empregando mais de cem pessoas”, rematou Justo.

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