DESPEITO OU A DESPEITO

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Por: Liberato Furtado 11/12/21

No tempo em que me fiz homem, ser do Comité Central do MPLA era como ter galões comparados aos de governante com um quê a mais que levava até o ministro a teme-lo.

No nosso meio ( kabangalaúma) o membro do Comitê Central ao nosso lado nos fazia tremer como varas verdes na ameaça de chuva de São Pedro ou de porrada. E se fosse família, se tornava razão de sobra para exaltar o temível “sabes com quem estás a falar?”

Ai daquele que se atrevesse!

Ser do Comité Central naquele tempo, independentemente de se aclamar que se dedicava aos kotas do “Maquis” , ainda assim a sua magistratura se ouvia em cada murmurar ou gemido com os ais da exclamação do respeito e reverência que se dedicava àqueles.

– É verdade! Tem razão que foi em tempo de partido único…

Se passaram, entretanto, várias eleições/Congressos pós Partido único e o altar do Membro do Comité Central foi se mantendo, mesmo sem que fossem todos do “Maquis”e sem que necessariamente Doutores.

Por assim dizer se ressalta que ainda foi valendo o “kissuco”: – ” sabes com quem estás a falar?”

A procura de ser mais preciso, diria que ao longo desse tempo as manifestações deram a subentender que o poder do Comité Central por via do respeito pelos seus membros continuou a ser exercido mesmo sem que fosse de direito instituído e sem que exigisse exibir o papel com foto, para constar a intrínseca e respectiva reverência.

Facto fortalecido por ser um número razoável de se memorizar e quer porque se reconhecia mérito, deferência ou homenagem.

Ora,o membro do comitê central no sentido literal não passa de um distinguido elemento de um partido , que passa a fazer parte de um fragmento ou de um apêndice que julga que também decide, porque o Órgão é nos traços estatutários a franja executiva. E não deveria ser mais do que apenas isso.
De todo modo, ser do Comité Central é notável.

Por sê-lo, convém que se lembre :- o que dignifica não danifica!

Não se queira confundir, chamando a colação uma prosaica saudade do ” sabes com quem estás a falar”,porque, fique bem assente, não sou apologista. E nem que o fosse, outras teimosias não me deixariam ter saudades.

Esses marcos me levam sim ao ressabiado comentário, como dizem, onde eternamente se lembra que o tempo passado supera a léguas o tempo que se gera. A despeito se alguma vez tive dúvida , me envergonho. – O passado faz cultura, edifica à história e emana a coesão de um povo na identidade em que se revê.

-O presente é uma dádiva sim, porém, aspira convencer que não é envenenada!
Outrossim,domino a pretensão ou propensão que temos da mania das grandezas, no entanto, me custa a entender…:

– A super China tem 205 membros efectivos e 171 suplentes; Portugal o Partido Comunista tem 129 membros do comitê central.

Angola agora passou dos 497, como se não bastasse, para 693 membros.

Há um assanhado provérbio que não é do Kota Makuta Nkonda, em que se diz: ” Não é por grandes orelhas que o burro vai a Feira”.

Com o devido respeito, salvo melhor entendimento ( agora é assim, kibanga kiebi) acho que esse aforismo se atrela, se ajusta como em uma luva ao que se decidiu fazer com o comitê central do MPLA. Aliás, ao que se condenou ao “glorioso” MPLA.

É” buanja “!

O propalado poder popular já tem marcas indeléveis que sombram e fazem sangrar o país na realidade que ninguém quer real e muito menos assumir.

O MPLA é, foi popular, tem na sua génese, todavia, alguém deve teimosamente lembrar que popular não , peremptoriamente não, deve ser confundido com populista. A nova febre que antecede a covid 19, mas que por infelicidade a vacina se existe estará sob censura.

É buanja!

Ninguém se atrevera internamente em chamar a atenção sobre tal caminho ( me ocorreu dizer tal sandice, mas não quero vincular esse meu entendimento)?

Há pouco tempo alguém pediu-me para ajudar um estudante do terceiro ano do curso universitário de jornalismo… para um emprego…

Pedi ao jovem, sem compromisso, que me enviasse uma crônica de sua autoria.

Falei com a fada e disse que não seria possível diante do recebido… A pessoa insistiu alegando ser a realidade da juventude actual. Dei outra chance pedindo outra crônica.

Debalde!

Mesmo com a incompreensível insistência da pessoa, que me soou a ofensa a minha profissão, restou-me dizer algo parecido a isso: ” …nos órgãos não se ensina o abcd…”

Tudo isso para dizer que aprendemos com todos e com quem quer que seja, todavia, o comitê central pela sua natureza não é de modo algum um lar de desamparo, de imberbes ou famintos de poder sob a capa do tudo ou nada.

Os escalões partidários na essência dariam, a fluidez do aprendizado e da sabedoria a transmitir, por meio dos mecanismos oleados para o efeito. E a medida que o reconhecimento e maturidade se impuzerem o portão do comitê central se escancara.

É buanja! É o que martela a cada traçado destas linhas. Entretanto, estou convicto que estará a lhe ocorrer que é despeito, tal como levianamente se apoda por membro de tal partido na oposição quando alguém se manifesta contra qualquer que seja a posição do executivo ou do MPLA.O que resta dizer a despeito é que os sinais de degeneração estão aí para quem quer ver. Mas se prefere ignorar que o rei está nu, ngongo yove.

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