GRUPOS DE MARGINAIS TOMAM AS RÉDEAS DOS MULENVOS
Nos Mulenvos de Cima, estamos no município do Cazenga, atravessada a estrada, é os Mulenvos de Baixo, Cacuaco. Por esta zona periférica da capital, à semelhança de outras, houve um crescimento populacional que não foi acompanhado com o surgimento de estruturas sociais, como escolas, parques de lazer, centros de formação e outras, resultando, desse modo, no aparecimento de grupos de marginais, formados por adolescentes e jovens que ditam as regras da área.
Jaime Tabo
Os Baratas, Mini Tuba, Bela, Cuna Mata, Ubb, Elenco do Gueto, Viana, Baila e os 54 não são grupos culturais, mas conjunto de adolescentes e jovens vândalos que tiram a paz e a harmonia social na vida dos populares daquela zona de Cacuaco, maioritariamente pobres que lutam, dia-a-dia, pelo que comer.
Os grupos são formados por rapazes dos 12 aos 18 anos, que começam brigas entre si, resultando em mortes e ferimentos e, não raras vezes, invasão às propriedades domiciliares. Há duas semanas, por exemplo, um dos integrantes perdeu a vida depois de ser esfaqueado. “As rixas podem começar as 19 e se estender até perto da madrugada”, informam os populares.
Por conta disso, a segurança no bairro não é em tempo integral. Durante o dia, a possibilidade de circular livremente é maior, devido a maior movimentação de transeuntes, mas, por vezes, nem isso impede que eles assaltem a luz do dia. “Das 8 às 20 horas, se pode andar em segurança”, garante Avelino Fernandes, morador há nove anos, que aconselha a não-circulação na zona acima das 21 horas, considerando ser o período em que os marginais tomam conta de tudo.
Este interlocutor acrescenta que a criminalidade juvenil na zona está excessiva, retirando, consequentemente, o sossego dos populares que, acima do horário referido, entram em uma espécie de Estado de Emergência. Avelino não sabe precisar o tempo em que o bairro começou a se tornar perigoso, mas aponta os três últimos anos como o ponto de partida dos actos criminosos constantes que forçaram muitas famílias a abandonarem as próprias residências.
No passado mês, Adilson Miguel, morador da zona desde 2006, foi ferido com uma lâmina durante um assalto, às 10 horas, próximo de sua casa. O jovem que sonha ser agente da Polícia Nacional avança que é urgente o combate às dezenas de grupos de marginais.
Os moradores lamentam o facto de a Polícia nunca chegar em tempo oportuno para dar resposta aos actos criminosos que se desencadeiam na circunscrição.
“Não é esse o bairro que sonhamos”, dizem, almejando por um Mulenvos onde reine a paz, tranquilidade e a segurança social para o bem da juventude local.
Para os mototaxistas que actuam naquela periferia, o nível de assaltos é alto, por isso, sugerem, o cuidado deve ser redobrado por aqueles que usam motos novas, devendo largar o labor às 16 horas, no máximo, sob pena de serem seguidos pelos marginais que, na primeira oportunidade, realizam assalto.
Estes trabalhadores contam que não são poucos os colegas que deixaram o mundo dos vivos, quando tentaram reagir a um roubo, na intenção de proteger o meio que o dava sustento. Neste mês, não houve registos, mas garantem que os casos são frequentes, sendo que, a partir das 5 horas, não é possível iniciar os trabalhos. “Aqui, as motos novas circulam até 16 e as mais cansadas até 20 horas no máximo”, conta António Manuel, mototaxista.
Conforme noutras paragens de Luanda, a energia, água potável e escolas públicas são sérios problemas que os munícipes enfrentam. Há uma rede de energia eléctrica instalada nos Mulenvos, mas as dificuldades para se beneficiar do produto é muita, devido à grande burocracia para se conseguir um contrato na ENDE, o que leva muitos a fazerem ligações anárquicas.