JES humilhado: Castigo divino, cobardia ou falta de lealdade no MPLA?
Sou dos cidadãos, e não são poucos, que não perdoam José Eduardo dos Santos, principalmente pela forma desastrosa como governou o país. Não posso, entretanto, deixar de criticar o tratamento dado a JES por membros do MPLA. Falamos daquele que um dia foi visto como “semideus”, “herói nacional”, “arquitecto da paz” ou mesmo “responsável pelo ar que respiramos”.
O presente mostra que os elogios foram proferidos por lobos em pele de cordeiro, por meros bajuladores dissimulados.
Os dirigentes do MPLA que trabalham com JLO em troca de perdão judicial, como é o caso do actual secretário do MPLA na provincial de Luanda, Bento Bento, o criador do slogan “graças ao camarada presidente José Eduardo dos Santos” (matéria para as próximas edições), são vistos como desleais e cobardes por verem JES humilhado, ultrajado e abandonado, mas sem que intervenham. É, pois, natural que se insista na pergunta: Será que JLO terá um futuro diferente?
JES foi, sem dúvida alguma, o cabecilha do bando que empurrou Angola para o abismo, mas foi, diga-se, um militante que deu até o que não tinha para manter o MPLA no auge e garantir o bem-estar dos seus correligionários.
Com Eduardo dos Santos ao leme, os membros do MPLA foram sempre privilegiados. Ponto final.
Hoje, soa a humilhação a situação do homem, tão vergonhosa quanto preocupante.
Os militantes do partido dos camaradas, salvo raríssimas excepções, mostram claramente que não são leais a ninguém. São apenas, melhor dito, para com as suas barrigas.
Como se pode acreditar nas promessas eleitorais de dirigentes do MPLA que outrora endeusavam JES e hoje o tratam como se fosse Lúcifer? Que tremenda ingratidão!
Muito se fala, e até com alguma sustentabilidade, da perseguição de JLO à família dos Santos, mas não restam dúvidas de que os chamados tubarões do MPLA têm capacidade para colocar fim a uma situação nada abonatória para a imagem do país.
O MPLA passa a imagem de um partido vingativo, de ingratos sem moral e que não respeita os seus ex-dirigentes.
Confesso que nem nos meus mais delirantes sonhos imaginava tal realidade, nem mesmo se tiver em conta que mais que o ex-PR tenha colocado a maioria do povo angolano na pobreza.
Os exemplos e as analogias valem o que valem, mas é conveniente olhar para o tratamento que a UNITA dá a Savimbi, seu líder fundador, acusado de tudo e mais alguma coisa.
Assistir ao vídeo que circula nas redes sociais, em que José Eduardo dos Santos surge rebentado, provoca arrepios.
A esta altura, convenhamo-nos, JES estaria a repousar e a tratar do seu estado de saúde, a envelhecer de forma condigna.
José Eduardo dos Santos, ou melhor, José Eduardo Van-Dúnen, foi o segundo presidente de Angola, isto de 1979 a 2017, tendo chegado ao poder com apenas 37 anos, num dos piores períodos da vida política de Angola.
Substituto de Agostinho Neto, José Eduardo dos Santos foi eleito presidente do MPLA a 20 de Setembro de 1979 e investido, no dia seguinte, nos cargos de presidente da República Popular de Angola e comandante-em-chefe das FAPLA (Forças Armadas Populares de Libertação de Angola). Também foi eleito presidente da Assembleia do Povo a 9 de Novembro de 1980.
De 1986 a 1992, José Eduardo dos Santos teve um papel de destaque na solução da crise transfronteiriça entre Angola e a África do Sul, que culminaria no repatriamento do contingente cubano, na independência da Namíbia, e na retirada das tropas sul-africanas de Angola.
José dos Santos, apesar dos seus defeitos, é considerado por muitos como um chefe de Estado moderado, um líder pacífico, isto é, não foi um líder com as mãos ensanguentadas.
Lembro-me de ter ouvido de um agente do SINSE, que raptou um dos filhos de Savimbi, que JES não era assassino, ao contrário do seu chefe directo.
Os acontecimentos até ao dia 4 de Abril de 2002 são um indicador de que Eduardo dos Santos é um homem de paz, não fosse ele, diga-se o que se disser, o mentor do Governo de Reconciliação Nacional.
Foi também neste período que abriu portas ao enriquecimento ilícito, ao saque do erário, facto que constitui a principal nódoa do seu percurso político.
O petróleo chegou a proporcionar, em 2012, um OGE de 69 bilhões de dólares. No entanto, segundo o Fundo Monetário Internacional, 32 mil milhões de dólares das receitas de petróleo sumiram dos registos do governo.
Curiosamente, o ex-PR, hoje visto como a pior figura, já teve vários prémios e reconhecimentos, entre os quais o de “Homem do Ano 2014”, atribuída pela revista “Africa World”. Segundo a publicação, a escolha do líder angolano deveu-se ao seu contributo para o excelente processo de recuperação económica e democrática de Angola desde o fim da guerra.
A 8 de Maio de 2015, o ex-presidente angolano foi galardoado com o prémio de boa governação “Meafrica Award”, no Dubai, Emirados Árabes Unidos. O Meafrica Awards é uma organização sem fins lucrativos que distingue personalidades individuais que contribuem para a facilitação de investimentos e das relações económicas, para as economias em desenvolvimento, só para citar estes.
Alguma coincidência com o percurso do actual presidente da Republica? Não há garantia de que João Lourenço, daqui a 8 anos ou em 2022, não vá sofrer a mesma situação ou, na pior das hipóteses, os seus descendentes.
Os dirigentes do MPLA que trabalham com JLO em troca de perdão judicial, como é o caso do actual secretário do MPLA na provincial de Luanda, Bento Bento, o criador do slogan “graças ao camarada presidente José Eduardo dos Santos” (matéria para as próximas edições), são vistos como desleais e cobardes por verem JES humilhado, ultrajado e abandonado, mas sem que intervenham. É, pois, natural que se insista na pergunta: Será que JLO terá um futuro diferente?