Luta pela água no Cassequel : MORADORES AGASTADOS COM O CORTE NO FORNECIMENTO
A falta de água em alguns quarteirões é um cenário que se arrasta há pouco mais de três anos, depois que os técnicos da EPAL efectuaram ligações domiciliares em alguns consumidores.
Jurelma Francisco
Desde 2017 que alguns quarteirões do cassequel do Imbondeiro, também conhecido por Terra Vermelha, afecto ao Distrito da Maianga, ficaram privados do fornecimento do precioso líquido. Segundo os moradores da zona, “os técnicos da EPAL, agora dizem não terem ordens superiores para resolver o caso”.
Sem este recurso nas residências, ou próximo dessas, os moradores são obrigados a percorrer longas distâncias à procura do líquido, como conta a moradora Sara Fernandes. “Sou obrigada a ir em outras ruas, longe de casa, ou mesmo procurar em bairros vizinhos, com balde na cabeça, para poder regressar com água à casa”.
Para Sara, a situação é triste e vergonhosa, sobretudo por se tratar de um bairro com mais de 20 anos de existência e localizar-se a pouca distância do centro da cidade. Aliás, esclarece que o problema é do conhecimento da Administração local, mas, infelizmente, não têm apoio da mesma.
Pedro Vicente, morador do bairro há mais de quatro anos, mostra-se, de igual modo, irado com a situação e lamenta pelo facto de, não raras vezes, ver a sua esposa gestante ir à procura de água. “Há dias em que os motoqueiros não passam nas ruas de cima, daí a necessidade de ela deslocar-se para a luta da água, o que tem sido muito difícil, embora eu ajude quando posso”, desabafou.
O munícipe afirmou que, após a colocação de uma conduta de água, em Agosto de 2017, para ligações domiciliares, o líquido jorrou apenas por um mês em sua casa. Para Pedro, o problema pode estar relacionado com a má ligação da referida conduta, que deveria bombear em sistema de gravidade, ou seja, de cima para baixo, e não o contrário.
Aproveitadores
Todavia, se de um lado há aqueles moradores que andam irritados com esta situação, do outro estão os que se aproveitam dela para sobrefacturar com a venda do precioso líquido. Embora não concorde com a acusação de extorsão, Cândida Pina, moradora e vendedora de água há mais de dois anos, disse que tem sofrido ameaças por parte dos clientes, “embora os tente ajudar”.
Os moradores a acusam de retirar água da torneira para o tanque e comercializar aos homens das cisternas, pelo preço de 1000,00 (mil kwanzas), e estes, por sua vez, revenderem o produto entre 10 a 13.000,00 (dez a treze mil kwanzas) para os tanques de dez mil litros. Quanto maior a procura, maior é o preço, e sendo a água um líquido vital e de consumo diário, os moradores são obrigados a comprar o produto a qualquer preço, por falta de alternativas.
Segundo apuramos, em alguns pontos de venda de água no bairro, o bidão de 20 litros é comercializado a 50 (cinquenta kwanzas) kwanzas nos dias normais e, quando há escassez, o preço sobe até AKZ 100 (cem kwanzas), o que desagrada os moradores, uma vez que a EPAL ainda nem começou a cobrar o consumo de água no bairro.
Preços em cisternas vão até AKZ 13 mil
Nalgumas ruas daquele bairro, a nossa equipa de reportagem ouviu os homens das cisternas com os quais procurou saber as razões pelas quais praticam preços considerados altos pelos populares. Em defesa, disseram que, como em qualquer negócio, os preços variam de acordo com a procura, sendo que, aliado a isto estão as dificuldades na aquisição do produto nas girafas. Assim, explicam, uma cisterna de 10ml é comercializado ao valor de 13 mil kwanzas.
Além disso, alegam os condutores de camiões cisternas, “a distância e muita burocracia” concorrem para elevação do preço da água. “Se não tiveres padrinho na cozinha, as coisas complicam-se”, disse um camionista que preferiu anonimato, sublinhado ser doloroso ver um indivíduo que chegou consigo, a carregar e ir descarregar e ainda te encontrar à espera para ser atendido na girafa. Ademais, disse ser um trabalho difícil e que requer muito sacrifício.
“Levantamos às 3h00 da manhã, e, às vezes, conseguimos um carregamento por volta das 15h00 horas, devido às enchentes”, afirma, justificando que esta é, também, uma das causas que faz com que muitos desistam das girafas e prefiram os tanques, nos bairros.
Ali, elucida, evita-se todo tipo de transtorno que registam nas girafas e, mais do que isso, consegue-se tirar o dinheiro do patrão e do ajudante – este último que fica com AKZ 2.500,00 (dois mil e quinhentos kwanzas) diariamente. Os motoristas, segundo Pedro de Jesus, outro camionista de cisterna, os proprietários dos veículos têm entre segunda a sexta-feira para receberem o que se ganha com as vendas, enquanto os condutores têm apenas os sábados ou domingos, não importando a quantia que consigam nesse dia.
Nesse trabalho há mais de três anos, Pedro De Jesus explica que várias vezes abasteceu a cisterna nos tanques do bairro, mas, por medo da Polícia e da Fiscalização, não pensa repetir essa prática. “Não posso colocar o meu ganha-pão em risco, porque a minha família depende disso, inclusive a escola dos filhos”, explicou. Para fugir os riscos, o camionista refere que prefere ter paciência e fazer um esforço de se deslocar à girafa, antes das 4 horas.
No fim da conversa, um grupo de moradores veio apelar para que o Governo resolva “a maka da água”, por ser um bem essencial, pois, a falta deste líquido precioso tem gerado revolta entre os habitantes.