PGR aperta milionários: GENERAIS KOPELIPA E DINO CONSTITUÍDOS ARGUIDOS

0
918

Estiveram todos ligados ao ex-presidente, José Eduardo dos Santos, e, ao longo dos anos, acumularam fortunas bastante evidentes, assim como participações em empresas que operam em sectores de controlo estatal, como petróleo, diamantes, segurança e agropecuária, sendo que poucos sectores da economia escapam a esta rede que foi ouvida e constituída arguida pela Procuradoria-Geral da Republica.

Os generais Leopoldino Fragoso do Nascimento e Manuel Hélder Vieira Dias foram informados, na terça-feira, 29 de Setembro, pela Procuradoria-Geral da Republica, que são arguidos nos processos que vêm acusados pelos crimes de peculato e corrupção.

Os generais Dino e Kopelipa são nomes sobre os quais Hélder Pitta Gróz, procurador-geral de Angola, foi questionado em uma entrevista, pelo jornal português Expresso, sobre a falta de processo contra as duas figuras. Na ocasião, o procurador-geral da República respondeu que “em relação a essas figuras, ainda não temos matéria suficiente para instaurar processos-crime”. Ao que tudo indica, a PGR já tem indícios fortes e, em função disso, terá, agora, agido.

Leopoldino Fragoso do Nascimento, mais conhecido por ‘Dino’, o general Kopelipa e o ex-vice-presidente, Manuel Vicente, completavam um trio, depreciativamente apelidado como “Irmãos Metralha”, envolvido em muitos negócios do Estado angolano e que formava uma espécie de núcleo duro em torno do ex-presidente, José Eduardo dos Santos.

 A 30 de Dezembro de 2019, juntamente com a notícia do arresto dos bens de Isabel dos Santos em Angola, também esteve nas manchetes dos jornais. Segundo o Ministério Público de Angola, a Polícia Judiciária portuguesa interceptou uma transferência de 10 milhões de euros de uma conta do general, no Millennium BCP, que se destinava a uma sociedade russa, tendo como aparente destinatária Isabel dos Santos. Dino desmente tudo.

 A sua fortuna pessoal é avaliada, pelo “Maka Angola”, do jornalista Rafael Marques, em cerca de 900 milhões de euros. Chegou a chefe da Casa de Segurança do ex-Presidente da República, tratando das comunicações. Aliás, era essa a sua formação, adquirida no leste da Europa, tal como sucede a muitas outras figuras ligadas ao então marxista-leninista MPLA. Licenciou-se em Engenharia de Telecomunicações na Universidade de Veliko Tarnovo, na Bulgária, em 1988.

 Grande parte da sua fortuna advém da propriedade da GENI, uma das principais accionistas da Unitel (25%), a principal operadora de telecomunicações do país. Para além disso, detém uma sociedade denominada Cochan, com participações na Puma Energy International, que vende combustíveis em mais de 30 países, e na importação de produtos petrolíferos refinados, através da Trafigura.

 Tratava-se de um monopólio que João Lourenço já travou. A 20 de Junho de 2018, foi exonerado pelo próprio actual Presidente da República, João Lourenço, mas já ninguém lhe tirava o estatuto de “um dos maiores empresários do país”. Em Junho de 2019, o Estado angolano exigiu-lhe a devolução de um empréstimo de 29 milhões de dólares, destinado à GENI.

Ao general ‘Dino’ são ainda apontadas ligações à operadora de comunicações Movicel e à TV Zimbo, em parceria com Kopelipa e Manuel Vicente.

Kopelipa, o braço direito de José Eduardo dos Santos

O general Manuel Hélder Vieira Dias, neste caso conhecido por alcunha, era tido como o homem em quem José Eduardo dos Santos mais confiava. Ex-ministro de Estado e chefe da Casa Militar do Presidente, realizou vários investimentos em Portugal, nomeadamente, imobiliários e no banco BIG. Tem 64 anos e tem como berço uma das famílias historicamente poderosas de Angola.

 Tal como o general ‘Dino’, estudou na Europa, especializando-se em Comunicações Militares na ex-Jugoslávia, o que lhe permitiu o acesso à informação confidencial, tornando-se de uma utilidade evidente para José Eduardo dos Santos.

 O poder trouxe-lhe fortuna que, em boa parte, era resultado das actividades de uma sociedade angolana chamada Grupo Aquattro Internacional, criada em 2007 e tendo como outros sócios, segundo o “Maka Angola”, ‘Dino’ e Manuel Vicente, o ex-vice de José Eduardo dos Santos.

 A sociedade controlava, por sua vez, uma subsidiária chamada Portmill Investimentos, que comprou, em 2009, uma participação de 24% no Banco Espírito Santo Angola (BESA) ao BES, então liderado por Ricardo Salgado. O investimento terá sido financiado com dinheiro emprestado pelo próprio BESA, envolvido em transações avultadas em numerário e um segundo empréstimo do mesmo valor por parte do Banco Angolano de Investimento, revelou uma investigação de Rafael Marques.

 A mesma troika terá lucrado, em conjunto, 1,3 mil milhões de euros com a venda da sociedade offshore Nazaki Oil and Gas, detentora dos direitos de exploração de petróleo no mar angolano. O negócio surgiu após uma investigação da SEC (a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários norte-americana), agência responsável pela vigilância das bolsas de valores e das companhias cotadas. A Nazaki tinha uma participação na Cobalt, uma empresa de prospeção petrolífera, parceira da Sonangol, e cujos contratos levantaram suspeitas.

 São ainda conhecidos interesses de Kopelipa na comunicação social, como proprietários de jornais, rádios e da TV Zimbo. Alguns desses investimentos foram feitos em parceria com Álvaro Sobrinho, antigo director do BESA, e Manuel Vicente, o ex-vice-presidente do país.

 Em Julho, o “Jornal de Angola”, uma espécie de órgão oficioso do regime, noticiou que Kopelipa entregara, voluntariamente, a gestão dos terminais dos Portos de Luanda e Lobito, que tinham sido concedidos a duas empresas da sua família. No entanto, o general garante que “actuou apenas como representante legal do accionista da Soportos, José Mário Cordeiro dos Santos, seu familiar”, por este se encontrar “ausente do país por motivos de saúde”.

Comentários do Facebook

Leave a reply