Vidas em perigo ante o silêncio da Administração: RAVINA MATA QUATRO CRIANÇAS E “AMEAÇA ENGOLIR” DEZENAS DE CASAS

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Cerca de quatro crianças morreram e uma casa foi destruída, em consequência de uma ravina de grande proporção, que perdura há vários anos, no Distrito Urbano da Baia, em Viana, onde os moradores temem pelas suas vidas e a de seus filhos. Actualmente, dezenas de casas podem ser colhidas a qualquer momento.

Por: Jaime Tabo

Não obstante as mortes que se assiste no local, denunciam os moradores, a Administração Distrital tem agido com ânimo leve. Paula Regina César é moradora da zona há cerca de 20 anos e conta que muitas crianças, em tempos de chuva, tentam nadar, colocando a vida em perigo.

“Em épocas de chuva, somos forçados a redobrar a segurança das nossas crianças, vigiando-as constantemente, para que não brinquem ao redor da ravina. Só no último ano, sete crianças quase perderam a vida, quando caíram no interior dela. Felizmente foram salvas pelos populares,” disse Antonieta da Costa, moradora da zona, alertando que “as casas podem cair quando menos se esperar”.

Por isso, essa cidadã apela à Administração que resolva a questão o mais rápido possível. “Há algum tempo, recebemos a promessa de que fechariam, mas não passou de uma promessa”, lamentou, para depois dizer “a minha casa está a centímetros de ser engolida e temo pela minha vida e a dos meus filhos, mas não tenho aonde ir. Se não houver seriedade no assunto, confessa, centenas de residentes poderão perder a vida em breve”, sublinhou, com o medo visível.

Felisberto Mário, 28 anos, é outro munícipe preocupado com a situação. Residente há quatro anos no local, garante que “se não fosse a intervenção dos populares, a este momento, todas as casas já seriam engolidas há anos”.

“Em 2018, as águas das chuvas encheram a ravina e os meninos, enquanto brincavam ao redor, inesperadamente, esta alastrou-se, atraindo um deles para baixo, o que causou a sua morte imediata”, lamentou, asseverando que “o facto mesmo é que vivemos em situação de perigo eminente”.

Aquele acidente geográfico, segundo os habitantes da área, cresce de dimensão a cada época chuvosa. Todos os esforços dos populares, que se resumem em colocar pedras no final da ravina para conter a sua progressão, foram insuficientes, de tal sorte que uma casa e uma fossa foram mesmo destruídas no pretérito ano.

Os moradores revelam que, no ano passado, já estiveram junto da Administração do distrito e a única resposta que obtiveram foi: “aguardem”. Água vai e água vem, o facto é que, até aqui, nada foi resolvido, dizem. Ainda segundo eles, todas as casas, a cinquenta metros da ravina, foram cadastradas, porém, nada mudou.

Além do mais, a ravina tem-se tornado em lixeira e reservatório de águas pluviais, o que tem aumentado a quantidade de mosquitos e a poluição do ar, causando, assim, várias doenças para quem vive ao redor.

O jornal “O Crime” tentou contacto com a Administração do distrito urbano da Baia, mas ninguém se mostrou disponível para falar a respeito do assunto que põe em causa vidas humanas e bens materiais.

Destruição de edifícios e corte de estrada são outras consequências

Entretanto, segundo o docente universitário, António Madaleno, a erosão dos solos e das rochas, resultante de processos naturais, devido à acção combinada da gravidade com a água e o vento, são apontadas como as principais causas do surgimento de ravinas em vários pontos do País.

O professor de Engenharia Civil da Universidade Agostinho Neto frisou que a desflorestação, construção em encostas e uso de técnicas agrícolas empíricas são outros factores que concorrem para o aumento do fenómeno.

Definindo as ravinas como erosão pluvial que ocorre quando a água do escoamento superficial escava o solo, atingindo horizontes inferiores e apresentando perturbação ou impermeabilização e abertura de vias de comunicação, o académico acresce que as erosões podem criar consequências nefastas, como a destruição de edifícios, corte de estrada, assoreamento de rios e a consequente turvação das suas águas.

Em relação ao controlo da erosão pluvial, sublinhou que as entidades governamentais locais devem criar meios para interceptar o escoamento superficial.

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