“NÃO ENTREI NO MUNDO DA MÚSICA, A MÚSICA É QUE ENTROU NO MEU MUNDO”
Placídio da Silva, vulgo Over12dose nas lides da música, é o eleito desta edição para contar a sua trajectória no Rap, um mundo onde dá o litro, a cada trabalho, para mostrar ao mundo o que realmente vale.
Por: Honorina Kiampava
“Já há dez anos de estrada na luta pela realização dos meus objectivos… apesar da demora, a fé nunca morre”, é assim que Overdose começa a falar connosco. O jovem sonhador e batalhador é solteiro, segundo de cinco filhos, considera-se uma pessoa respeitosa e encontrou na música a melhor forma de expressar os seus sentimentos.
Proveniente de família com veia artística, Placídio não ficou atrás e decidiu fazer jus à origem. “Eu acho que não entrei no mundo da música, a música é que entrou no meu mundo”.
A alcunha artística Over12dose foi escolhida em função de um vídeo-jogo, denominado “Total Overdose”, o primeiro que “completei o record, isto em 2008”. Por ter ficado tão marcado em sua mente, Placídio decidiu mencionar o nome do jogo numa das suas rimas e, como resultado, comentava-se que começou com um nível acima da média, decidindo, a partir daí, juntar o útil ao agradável.
A trajectória começa, concrectamente, na escola, em 2010, a partir de freestyles “mal feitos”, entretanto, as vivências nas ruas incentivaram-no a cantar cada vez mais e, assim, Overdose passou a aperfeiçoar as suas técnicas musicais, instrumentais e de vocalização, ouvindo artistas conceituados na área, como Lil Wayne, Valete, NGA, Regula e Kalibrados, tendo, actualmente, chegado ao ponto de ele mesmo constituir a própria inspiração.
Nas suas primeiras músicas, refere, era muito mais concentrado em letras motivadoras, fazia músicas mais temáticas e tinha um ritmo de dropping (cantar o rap) mais calmo. “Agora estou mais acelerado e faço poucas músicas com temas centrados, as minhas últimas músicas são o que no rap chamamos de skills ou ego trip, músicas sem temas fixos, onde são, geralmente, mostradas as habilidades e excentricidades do rapper”.
Às últimas músicas, Overdose atribui nota 10. “Tive que me esforçar muito para me profissionalizar e me tornar um rapper digno de ser ouvido”, segreda-nos, reconhecendo que a luta foi difícil, todavia, “tenho a agradecer por todos os ensinamentos que recebi de todos os familiares e, principalmente, amigos, que sempre estiveram comigo em momentos mais difíceis”, refere.
Em muitas das suas letras, o jovem cantor fala de drogas, como que a incentivar o seu consumo. Entretanto, explica que o faz, porque é a favor do consumo medicinal e recreativo da canábis. “Não faz sentido criminalizar uma planta que salva vidas e legalizar o cigarro e o tabaco, que prejudicam a saúde em todos os sentidos, por isso criei a minha marca, chamada Maconhaboyz, em 2017, com o intuito de mostrar que não tenho nada contra, até porque já usei diversas vezes…”.
Quanto a um sentido activista que, igualmente, se ouve em suas músicas, o artista, que teve, até aqui, o momento mais feliz quando lançou a sua primeira mixtape, em 2013, reconhece que faz parte da sua personalidade, pois considera-se fã da justiça e do humanismo.
Em termos de músicas preferidas, das que já fez, o nosso entrevistado diz que não tem preferência, pois gosta de todas, porém, elege a “sem regras”, cantada com a participação do músico Phedilson, como a melhor recebida pelo público.
A nível musical o seu maior sonho, por enquanto, é entrar no mercado brasileiro, porque “o Brasil é o topo da lusofonia no que toca à música, é um sonho singrar cá no país, mas o maior é atingir o mercado brasileiro”. Pelas realizações que ainda não atingiu, faz transparecer a crença de que “as coisas acontecem paulatinamente, tudo ao seu devido tempo”.
Para ele, o mercado angolano está em estado de oscilação, ora boas músicas, ora músicas péssimas e que, infelizmente, são essas últimas que mais sucessos fazem, tornando- se em grandes hits.
O pior momento que Overdose passou, enquanto artista, foi o início da pandemia, pois o afastou de algumas oportunidades que, provavelmente, mudariam as coisas para melhor, pelo que, enquanto assim vivemos, ele mostra o seu trabalho através da Internet.
Fora das artes, o dono das músicas Mayday, Sem regras, Suposto e tantas outras, é um jovem que luta por uma paixão no mundo da Metalomecânica (ramo da metalurgia que se dedica à transformação de metais em produtos desejados, estudando as propriedades dos materiais e respectivos fenómenos de resistência e os processos de deformação plástica, como a laminagem, a extrusão, a trefilarem, etc.; metalurgia mecânica), estando a fazer uma formação nesta área, além da licenciatura em Engenharia Informática concluída.
Para lá da música, Overdose trabalha por conta própria, com comércio digital, vendendo relógios, ténis e outros produtos e, para aqueles que desejam entrar de corpo e alma ao mundo do Rap, aconselha “não deixe de estudar, não deixe de trabalhar, o rap em Angola não garante muita coisa, e, se quiser mesmo ser artista, trabalhe sem esperar muita coisa de volta”.