PGR aperta milionários: GENERAIS KOPELIPA E DINO CONSTITUÍDOS ARGUIDOS
Estiveram todos ligados ao ex-presidente, José Eduardo dos Santos, e, ao longo dos anos, acumularam fortunas bastante evidentes, assim como participações em empresas que operam em sectores de controlo estatal, como petróleo, diamantes, segurança e agropecuária, sendo que poucos sectores da economia escapam a esta rede que foi ouvida e constituída arguida pela Procuradoria-Geral da Republica.
Os generais Leopoldino Fragoso do Nascimento e Manuel Hélder Vieira Dias foram informados, na terça-feira, 29 de Setembro, pela Procuradoria-Geral da Republica, que são arguidos nos processos que vêm acusados pelos crimes de peculato e corrupção.
Os generais Dino e Kopelipa são nomes sobre os quais Hélder Pitta Gróz, procurador-geral de Angola, foi questionado em uma entrevista, pelo jornal português Expresso, sobre a falta de processo contra as duas figuras. Na ocasião, o procurador-geral da República respondeu que “em relação a essas figuras, ainda não temos matéria suficiente para instaurar processos-crime”. Ao que tudo indica, a PGR já tem indícios fortes e, em função disso, terá, agora, agido.
Leopoldino Fragoso do Nascimento, mais conhecido por ‘Dino’, o general Kopelipa e o ex-vice-presidente, Manuel Vicente, completavam um trio, depreciativamente apelidado como “Irmãos Metralha”, envolvido em muitos negócios do Estado angolano e que formava uma espécie de núcleo duro em torno do ex-presidente, José Eduardo dos Santos.
A 30 de Dezembro de 2019, juntamente com a notícia do arresto dos bens de Isabel dos Santos em Angola, também esteve nas manchetes dos jornais. Segundo o Ministério Público de Angola, a Polícia Judiciária portuguesa interceptou uma transferência de 10 milhões de euros de uma conta do general, no Millennium BCP, que se destinava a uma sociedade russa, tendo como aparente destinatária Isabel dos Santos. Dino desmente tudo.
A sua fortuna pessoal é avaliada, pelo “Maka Angola”, do jornalista Rafael Marques, em cerca de 900 milhões de euros. Chegou a chefe da Casa de Segurança do ex-Presidente da República, tratando das comunicações. Aliás, era essa a sua formação, adquirida no leste da Europa, tal como sucede a muitas outras figuras ligadas ao então marxista-leninista MPLA. Licenciou-se em Engenharia de Telecomunicações na Universidade de Veliko Tarnovo, na Bulgária, em 1988.
Grande parte da sua fortuna advém da propriedade da GENI, uma das principais accionistas da Unitel (25%), a principal operadora de telecomunicações do país. Para além disso, detém uma sociedade denominada Cochan, com participações na Puma Energy International, que vende combustíveis em mais de 30 países, e na importação de produtos petrolíferos refinados, através da Trafigura.
Tratava-se de um monopólio que João Lourenço já travou. A 20 de Junho de 2018, foi exonerado pelo próprio actual Presidente da República, João Lourenço, mas já ninguém lhe tirava o estatuto de “um dos maiores empresários do país”. Em Junho de 2019, o Estado angolano exigiu-lhe a devolução de um empréstimo de 29 milhões de dólares, destinado à GENI.
Ao general ‘Dino’ são ainda apontadas ligações à operadora de comunicações Movicel e à TV Zimbo, em parceria com Kopelipa e Manuel Vicente.
Kopelipa, o braço direito de José Eduardo dos Santos
O general Manuel Hélder Vieira Dias, neste caso conhecido por alcunha, era tido como o homem em quem José Eduardo dos Santos mais confiava. Ex-ministro de Estado e chefe da Casa Militar do Presidente, realizou vários investimentos em Portugal, nomeadamente, imobiliários e no banco BIG. Tem 64 anos e tem como berço uma das famílias historicamente poderosas de Angola.
Tal como o general ‘Dino’, estudou na Europa, especializando-se em Comunicações Militares na ex-Jugoslávia, o que lhe permitiu o acesso à informação confidencial, tornando-se de uma utilidade evidente para José Eduardo dos Santos.
O poder trouxe-lhe fortuna que, em boa parte, era resultado das actividades de uma sociedade angolana chamada Grupo Aquattro Internacional, criada em 2007 e tendo como outros sócios, segundo o “Maka Angola”, ‘Dino’ e Manuel Vicente, o ex-vice de José Eduardo dos Santos.
A sociedade controlava, por sua vez, uma subsidiária chamada Portmill Investimentos, que comprou, em 2009, uma participação de 24% no Banco Espírito Santo Angola (BESA) ao BES, então liderado por Ricardo Salgado. O investimento terá sido financiado com dinheiro emprestado pelo próprio BESA, envolvido em transações avultadas em numerário e um segundo empréstimo do mesmo valor por parte do Banco Angolano de Investimento, revelou uma investigação de Rafael Marques.
A mesma troika terá lucrado, em conjunto, 1,3 mil milhões de euros com a venda da sociedade offshore Nazaki Oil and Gas, detentora dos direitos de exploração de petróleo no mar angolano. O negócio surgiu após uma investigação da SEC (a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários norte-americana), agência responsável pela vigilância das bolsas de valores e das companhias cotadas. A Nazaki tinha uma participação na Cobalt, uma empresa de prospeção petrolífera, parceira da Sonangol, e cujos contratos levantaram suspeitas.
São ainda conhecidos interesses de Kopelipa na comunicação social, como proprietários de jornais, rádios e da TV Zimbo. Alguns desses investimentos foram feitos em parceria com Álvaro Sobrinho, antigo director do BESA, e Manuel Vicente, o ex-vice-presidente do país.
Em Julho, o “Jornal de Angola”, uma espécie de órgão oficioso do regime, noticiou que Kopelipa entregara, voluntariamente, a gestão dos terminais dos Portos de Luanda e Lobito, que tinham sido concedidos a duas empresas da sua família. No entanto, o general garante que “actuou apenas como representante legal do accionista da Soportos, José Mário Cordeiro dos Santos, seu familiar”, por este se encontrar “ausente do país por motivos de saúde”.