BAIRRO SAPU TOMADO POR MELIANTES
São meninos, com idades compreendidas entre 15 a 19 anos, que se dedicam a tirar o sono dos moradores do bairro da Sapu, no município do Kilamba Kiaxi.
Honorina Kiampava
No Dia de África, 25 de Maio, ouvia-se apenas o barulho das plantas e o cantar dos pássaros. O sol ardente agia em consonância com a ordem das autoridades de se permanecer em casa. Parecia que os santos estivessem a habitar na Sapu.
Joaquim, de 17 anos, que pertencia ao grupo ‘Os faca mata’, coberto de sangue, foi levado ao posto médico. Numa breve entrevista com a sua madrasta, esta conta-nos que o enteado entrou para o mundo da delinquência, porque não encontrava o apoio emocional de que tanto necessitava
Todavia, fazendo jus ao ditado ‘a alegria do pobre dura pouco’, por volta das 19 horas, no lugar do silêncio, ouvia-se uma troca de tiros entre grupos rivais, composto por adolescentes dos 15 aos 19 anos, tudo porque os membros de um andavam em hora marcada como proibida pelo outro, o que, por consequência, um deles foi, gravemente, ferido na coluna vertebral.
Joaquim, de 17 anos, que pertencia ao grupo ‘Os faca mata’, coberto de sangue, foi levado ao posto médico. Numa breve entrevista com a sua madrasta, esta conta-nos que o enteado entrou para o mundo da delinquência, porque não encontrava o apoio emocional de que tanto necessitava, o que veio a piorar quando perdeu a mãe, em 2017. Aquela acrescentou que a desestruturação familiar é um dos motivos que leva vários jovens a entrarem para o mundo da bandidagem.
Na manhã seguinte, a casa de um soldado das Forças Armadas Angolanas (FAA) foi assaltada, de onde se retirou uma botija de gás, duas caixas de frango, além de 70.000 kwanzas, achado debaixo da sua cama, tendo, na sequência das investigações, a Polícia ter detido dois meliantes do grupo grupo ‘Os faca mata’, que foram encaminhados na esquadra do Kapolo 2.
O bairro Sapu era dos melhores lugares para se viver, sem roubos nem tiroteios. Porém, tornou-se perigoso andar até mesmo às 18 horas, tudo porque os pequenos meliantes colocam terror em tudo, com a agravante da falta de iluminação pública, o que provoca, inclusive, mortes e atropelamentos.
Costa Fernandes, de 19 anos, estudante do 12.º Ano no curso de Informática, conta que já lhe foi levado o seu computador e um telefone, após ter descido de uma motorizada. “O motorista não aparentava ser marginal, durante o caminho, dava-me conselhos para não desistir dos estudos, pois nunca foi o seu sonho ser motoqueiro, mas desilusões da vida o obrigaram a crescer sozinho. Entretanto, não tardou, ele parou a mota, dizendo que o pneu tinha furado. Baixei para tentar ajudar e aí ele pegou numa garrafa partida que se encontrava no chão e apontou para a minha costela… sem opção, tive de entregar tudo o que tinha e, desde aquela época, não consigo apanhar nenhuma moto”, desabafa, acrescendo que, em tempo chuvoso, a situação piora, porque os táxis ficam difíceis, sendo que, quanto mais tempo se fica na paragem, mais riscos de ser assaltado corre-se.
Em busca de opiniões que justifiquem o fenómeno, alguns disseram que é por causa da situação actual do país e que a fome tem contribuído nos inúmeros roubos. Em oposição, outros afirmaram que a dignidade está acima de qualquer sofrimento, e que a fome não pode ser um motivo de maldade, pelo contrário, é na dificuldade onde surgem as grandes oportunidades de sair com a cabeça erguida.
Para a Polícia, a principal causa dos assaltos é a falta de iluminação, que atormenta a população, principalmente os alunos que estudam distante e chegam à casa a partir das 19 horas em diante, pois, são os principais alvos dos marginais.
Face à promessa da Polícia em colocar uma esquadra móvel na área, para dirimir o nível elevado de bandidagem, os moradores contrariam, dizendo que são os próprios agentes que fornecem as armas aos meliantes, em troca de alguns objectos roubados. “No fundo, a Polícia protege os assaltantes, pois se assim não fosse, esses bandidos já teriam aprendido a lição”, porque adicionam, “é tanta preocupação que muitas casas estão a ser abandonadas e viram locais de assaltos, violações e até mesmo mortes que, até hoje, ainda não foram desvendadas”.