Perdemos o Rescova!: SERÁ POR ERRO TÁCTICO OU PROPOSITADO?

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A morte, prematura, sem dúvidas, do compatriota Luther Rescova, governador da província do Uíge, terra que o viu nascer, num momento raro, uniu o País, em torno de um sentimento de consternação.

Não serão tantos os dirigentes que “conseguirão” colocar Angola em luto nacional, quando disserem adeus ao mundo dos vivos.

Deu mostras de comprometimento com a causa do povo em tão-pouco tempo de governação. Talvez sirva de exemplo para os dirigentes do MPLA, um partido contestado pelo povo. Mais do que um jovem com futuro promissor, Rescova era um patriota, um homem com gestos nobres.

Em Luanda, onde esteve a menos de dois anos, retirou uma grua dos lotes do Prenda, distrito Urbano da Maianga, que constituiu problema durante, quase, quarenta anos. A grua, de cerca de 100 metros de comprimento, e peso acima de duas toneladas, que serviu de suporte para a construção dos lotes, apresentava corrosão na estrutura metálica.

Em 7 de Junho de 2018 foi abalada por fortes ventos, que atingiram velocidades superiores a 30 quilómetros/hora e causaram vários prejuízos.

Noventa e duas famílias residentes nos lotes e redondezas, num total de 448 pessoas, estavam aflitas, pois, tinham as vidas em perigo.

O nosso compatriota, jovem da minha geração, não pensou duas vezes e, em cinco horas, retirou a grua, devolvendo tranquilidade a muitas famílias.

Ainda em Luanda, realojou duzentas famílias em casas condignas, após terem sido desalojadas da ilha de Luanda. Viviam em extrema miséria em vários pontos da cidade capital. Rescova reabilitou o Beiral, Lar da 3.ª idade, e a Escola Angola e Cuba, no Cazenga, que andava paralisada há mais de dez anos deixando, desta feita, vários compatriotas fora do ensino escolar.

Num momento histórico da governação em Angola, apresentou “troco” de 500 milhões de kzs (mais de 1 milhão de USD), valor que sobrou da construção da Escola Angola e Cuba.

Já no Uíge, onde esteve quatro meses, começou por rejuvenescer e dinamizar a província com obras que dão dignidade à população.

Visitou 15 dos 16 municípios, tendo chegado a comunas recônditas, que nunca antes tinham recebido a visita de um governador.

A estes elementos, relevantes num país, associado a anomalias, junta-se o facto de ter mudado a imagem da sede do Governo Provincial, além de ter garantido dotações aos directores provinciais que não recebiam verbas ao longo de muitos anos.

Meus senhores, como facilmente se pode observar, não há aqui obra do acaso. Há patriotismo e, como dissemos, comprometimento com o País, amor ao próximo e responsabilidade.

Rescova estava a cumprir, ponto final. Se até aqui parece consensual , o mesmo já não se pode afirmar do apoio prometido pelo Presidente João Lourenço aquando da sua nomeação/tomada de posse.

Jlo disse-lhe que não precisava de ter medo na hora da tomada de decisões, porque o malogrado poderia contar com a sua protecção.

Para melhor compreensão, permitam-me que conte uma conversa que mantive, no princípio do ano, com o colega Gabriel Veloso, que era uma espécie de assessor de imprensa oficioso de Rescova.

Antes, devo dizer que não é segredo para ninguém que o Gabriel é um militante do MPLA, é dos jornalistas com privilégios, quando o assunto for obtenção de “informações de peso”.

A dado momento da conversa, o Gabriel disse que apostava comigo em como o malogrado seria o substituto de Jlo.

Deixei o homem, não sei por que carga de água , com a mão estendida, optei por não apostar. Hoje, vejo que seria uma daquelas vitórias, com sabor a derrota.

Hoje por hoje, fiquei com a dúvida de que se Luther Rescova era a posta dos militantes do MPLA, da ala de José Eduardo dos Santos ou de João Lourenço, pois, não se deve esquecer que o mesmo fazia parte do leque de jovens que JES projetava e protegia.

Quais foram as razões de fundo que levaram o PR a exonerar Rescova de Luanda e nomear para a província do Uíge? Será que pretendia protege-lo do “matadouro político”, ou por ciúme em função do protagonismo que o jovem ganhava, e pretendia vê-lo longe? Rescova estaria no centro de um conflito de ‘tubarões’ do MPLA, já que não reunia consenso.

São mais do que legítimas as dúvidas em torno das causas da sua morte, alimentadas, diga-se, pelo velho problema de deficiência na comunicação das autoridades.

Informações disponíveis indicam que Luther, 40 anos, pode ter sido vítima de envenenamento, cá em Luanda, por um dos seus próprios correligionários ou durante um encontro que teve com um dos seus subordinados na província do Uíge, em que na sala de reunião estiveram apenas os dois, de forma estranha, a dado momento terá faltado energia.

Quem viu o seu corpo diz que o homem ficou completamente escuro, o que denota, segundo entendidos, indícios de envenenamento.

Rescova pode até ter contraído a Covid-19, que só terá acelerado a sua morte, pois, estamos cansado de ouvir os especialistas dizerem que os jovens não fazem parte do grupo de risco, salvo se tiverem outras doenças. Entretanto, a tese de envenenamento continua a ganhar força.

Recentemente, Rescova terá estado em Luanda, onde participou em vários encontros de trabalho e convívios particulares, longe de regras protocolares, como sempre fez.

O PR terá despertado tarde em relação ao perigo ou facilitado de forma propositada? Como quem corre atrás do prejuízo enviou o seu avião particular para trazer Rescova a Luanda, onde foi atendido pelo seu médico pessoal. Sublinha-se, procedimentos raros na governação angolana. Será que era para salvar ou escamotear alguma coisa?

Por outro lado, também pode ser visto como uma clara demonstração do que o jovem político representava para si. Nesta altura, que se questiona a sua “protecção”, deve, com urgência, rever as pessoas que o rodeiam, assim como dialogar, a fundo, com quem o aconselhou a enviar o pequeno Luther para a província do Uíge. Isto porque, como bem saberá Jlo, o próprio Rescova mostrou-se receoso, mas teve de avançar para a missão. Aqui, senhor presidente, pode estar o percurso de tão macabro plano, uma vez que, se a tese de envenenamento for confirmada, quem estará por detrás é bastante experimentado, que de forma inteligente fez de tudo para desviar as atenções para a província do Uíge, que é vista, por muitos, como epicentro do feitiço em Angola e, como a maioria das províncias, sérios défices de material de saúde.

Assim, imploro ao PR que, como bom jogador de xadrez, continue, não só, a proteger o, igualmente, jovem da minha geração, Adão de Almeida, assim como outros tantos. A pergunta que não se quer calar é o que terá realmente causado a morte de Rescova, isto é erro táctico ou propositado?

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