Criminalidade em Viana: 2.º COMANDANTE CONSIDERA CALMA A SITUAÇÃO NO MUNICÍPIO
A escalada da criminalidade a nível de Viana preocupa cada vez mais os munícipes, sendo que, quer de dia como à noite, fazem eco os relatos de assaltos à mão armada, assassinatos, violações, roubos na via pública, assaltos de viaturas, consumo de drogas e rixas entre gangues rivais. Face a este cenário, conversamos com o intendente Adilson dos Santos, 2.º Comandante Municipal de Viana, que explicou a situação operativa, bem como as estratégias da PNA para o combate ao crime no território.
Engrácia Francisco
Jornal O Crime – Antes de mais, gostaríamos que se apresentasse e falasse um pouco de si e da sua trajectória na Polícia Nacional.
Adilson dos Santos – Chamo-me Adilson dos Santos, tenho 34 anos de idade. Comecei por trabalhar no Comando-Geral da Polícia Nacional, na área de Estudo e Regulamentação, como especialista, e depois tornei-me chefe de Secção. A seguir, vim para o Comando Provincial de Luanda, onde fui comandante das esquadras do Projecto Nova-Vida, da Ilha de Luanda e do KM 12-B, na Estalagem. Actualmente, ocupo o cargo de 2.º Comandante Municipal de Viana.
Jornal O Crime – Há quanto tempo está neste posto?
Adilson dos Santos – Há, sensivelmente, três meses, mas estou em Viana há muito mais tempo.
“A criminalidade não é uma responsabilidade única e exclusiva da Polícia”
Jornal O Crime – Que apreciação tem do município de Viana? É um bom lugar para se viver ou nem por isso?
Adilson dos Santos – Como todo lugar, é bom para se viver, isso depende de cada um., pese embora o município tenha as suas especificidades, problemas e benefícios, só cabe ao próprio cidadão determinar o que é benéfico para si.
Jornal O Crime – Quais são as principais dificuldades que os agentes têm encontrado no cumprimento do dever?
Adilson dos Santos – Na verdade a população constitui o grande empecilho neste processo. Tem havido muita irresponsabilidade por parte da população no que toca ao cumprimento da ordem, apesar de termos boas relações, polícia e cidadão.
Jornal O Crime – No que toca à criminalidade, como está Viana?
Adilson dos Santos – Para nós, Polícia, a criminalidade não é vista através de números de crimes, mas sim pelo número da população. Se tiver uma média de 4 crimes numa área onde a densidade populacional é elevada, não consideramos como preocupante.
E, pelo facto de Viana ter cerca de três milhões de habitantes, não considero que a situação da criminalidade esteja descontrolada, muito pelo contrário, embora existam aqueles crimes que alarmam a sociedade e são muito difundidos pela media… mas isso não significa que acontecem todos os dias.
Jornal O Crime – É notório o abandono de residências por parte dos munícipes devido à criminalidade. O que tem a dizer quanto a isso?
Adilson dos Santos – Todos somos livres de circular em qualquer parte do território nacional. Se alguém achar que não se sente bem em viver aqui, pode se mudar.
Eles têm a liberdade de abandonar as suas casas, porque existem indivíduos que vêem para cá fazer as suas vidas, construir e investir. Estes estão no mesmo sítio que eles.
Jornal O Crime – O facto de um morador abandonar a sua residência pelo índice elevado de criminalidade deveria merecer alguma atenção por parte da PNA. Porquê a indiferença?
Adilson dos Santos – A criminalidade não é uma responsabilidade única e exclusiva da Polícia Nacional. A Constituição prevê que o combate à criminalidade é de responsabilidade do Estado com a participação do cidadão, cada um na sua vertente.
Jornal O Crime – O que o Comando Municipal de Viana tem feito, a fim de mitigar essa situação?
Adilson dos Santos – O comando tem vários projectos junto das comunidades, um deles é o famoso projecto de repressão dos jovens na delinquência juvenil, intitulado “Jovem Consciente, Crime Zero”. Estamos a tentar retirar os jovens dos 18 aos 25 anos de idade da prática criminal.
O projecto tem como objectivo dar poder económico e financeiro a estes jovens ou reeducá-los naquilo que é a sua reinserção na comunidade.
Jornal O Crime – Tem havido acompanhamento constante da PN a estes jovens beneficiados?
Adilson dos Santos – Aí surge o problema: a população acaba por pensar que é a PN que deve fazer tudo e, desta forma, encontramos empecilhos nos pais e nos próprios jovens. Ou seja, os pais têm a possibilidade de trazerem os filhos para trabalharem connosco, para oferecermos possibilidade de terem um rendimento, mas as mães não incentivam e muito menos os próprios jovens aparecem.
Existem vários projectos para que a população deixe de fazer as coisas de forma informal e passe à forma organizada e direccionada para o futuro.
Jornal O Crime – Diariamente, quantos casos a Polícia regista, no que concerne a roubos, assassinatos, venda e consumo de drogas ilícitas e assaltos a residências?
Adilson dos Santos – Tivemos um total de 269 crimes no mês de Junho, de diversas naturezas, o que corresponde a 9 crimes diários.
Jornal O Crime – Quantos crimes são esclarecidos?
Adilson dos Santos – Temos 122 crimes com detidos, fazendo uma média de 4 crimes esclarecidos.
Jornal O Crime – Quais são os crimes que mais preocupam e as zonas mais endémicas?
Adilson dos Santos – São os crimes contra o património (roubos e furtos), que têm maior incidência, daí a nossa preocupação no enquadramento dos jovens.
A criminalidade vária, tendo em conta a característica de cada território. Existem lugares onde há mais homicídios, outros roubos e assim sucessivamente. A nossa maior preocupação tem sido centrada no território de Viana, no seu todo.
Jornal O Crime – Já existe algum trabalho para travar esta onda?
Adilson dos Santos – Nas situações de crimes ocorridos na via pública, onde tem tido aglomeração de pessoas, nós colocamos agentes para persuadir o eventual criminoso. Por outro lado, os roubos que ocorrem na zona industrial, nós colocamos forças para fechar as chamadas vias de fuga.
Contudo, as estratégias são muitas, mas com único objectivo, o de prevenir.
Jornal O Crime – Durante a nossa ronda pelos variados bairros que compõem o município de Viana, foram apontados pelos moradores alguns pontos tidos como mais conflituosos. Essa informação é de conhecimento do Comando?
Adilson dos Santos – Respeito a opinião do cidadão, mas não concordo, porque, quanto ao patrulhamento nestes bairros, dizer que o nosso patrulhamento é estratégico, porque as necessidades são infinitas e os recursos são limitados, logo, a estratégia de policiamento é direccionada para cada caso, que tem a sua relevância no sentimento de insegurança.
A Polícia patrulha em todo o lugar, incluindo no bairro Papá Simão. Inicialmente, o bairro Papá Simão era caracterizado, maioritariamente, pelas rixas entre gangues deste bairro e dos ‘Quatro Embondeiros’, de Cacuaco. Obviamente, a população sofre as consequências.
Jornal O Crime – Quanto aos casos de assalto à residências concorrendo com violação, que dados o Comando tem?
Adilson dos Santos – É de nosso conhecimento, mas este crime não ocorre com muita frequência. A probabilidade de um crime de assalto concorrer com violação está abaixo dos 50%.
Jornal O Crime – Quanto às violações que ocorrem na via pública?
Adilson dos Santos – Caracterizamos este tipo de crime como “crime de oportunidade”. Se uma menina for a uma festa às 23 horas e regressar por volta da 1 da manhã, esta corre o risco de ser violada, o que significa que o comportamento das pessoas, muitas vezes, nos remete a esse tipo de crime.
Jornal O Crime – Como o Comando de Divisão está preparado para lidar com eventuais casos de rapto de seres humanos?
Adilson dos Santos – As situações de raptos ocorrem de forma ligada ao fenómeno. Hoje existem aqueles táxis tradicionais (azul e branco), que também são usados pelos meliantes que se fazem passar por passageiros e não se consegue identificá-los.
O comando faz o esclarecimento da ocorrência e procura identificar e deter.
Jornal O Crime – Como tem sido a comunicação entre a comunidade e a Polícia?
Adilson dos Santos – A relação entre Polícia e cidadão é boa, tanto que temos realizado dois a três encontros com a comunidade por semana.
Jornal O Crime – O contacto com as comunidades no plano de policiamento de proximidade tem surtido os efeitos desejados?
Adilson dos Santos – Sim.
Jornal O Crime – Tendo em conta a extensão territorial de Viana, como se consegue atingir as zonas de recessos?
Adilson dos Santos – Utilizamos meios de acordo com a nossa realidade. Por agora, serão distribuídas duas motos de três rodas para ajudar na deslocação dos efectivos, bem como as motos de duas rodas e as viaturas.
Quanto ao fraco policiamento e escassez de efectivos, isso é muito subjectivo, porque há pessoas que enaltecem o trabalho e outras não. A 44ª Esquadra, e a do Capalanga, já foram contempladas com mais efectivos, mas ainda assim a população queixa-se da falta de polícias.
Quanto ao número de esquadras, a PN tem uma estratégia: nós não colocamos esquadras ou postos policiais onde o cidadão quer, mas sim onde estrategicamente deve estar. Isso pressupõe critérios como a quantidade de pessoas que ali residem e o volume de crimes que ocorrem.
Temos recursos disponíveis necessários para o exercício do nosso trabalho. Existem esquadras que carecem, sim, de efectivos, mas em contrapartida, a 44.° Esquadra e a do Capalanga já foram beneficiadas no projecto “A Nossa Esquadra da PN” e o trabalho é contínuo para outras esquadras a nível do território.
Jornal O Crime – O que lhe preocupa mais a nível das comunidades?
Adilson dos Santos – O que mais me preocupa é o sentimento de insegurança por parte da população, pelo medo que demonstram em sofrer ou de voltar a sofrer algum crime. O município não se preocupa com o número de detidos, mas com a segurança humana.
Venda e consumo de drogas
Jornal O Crime – Qual é o quadro para este tipo de crimes e que tipo de drogas é mais usada no município?
Adilson dos Santos – Quanto às bebidas, fizemos uma operação de fecho das casas que produzem bebidas caseiras. Por outro lado, o estupefaciente custa muito barato e é de fácil acesso, quase todos os dias apreendemos essa droga e os responsáveis são levados a julgamento sumário.
O estupefaciente, sem sombra de dúvidas, é a mais usada.
Jornal O Crime – Quais os pontos de venda e de consumo já desmantelados pela Polícia?
Adilson dos Santos – Os pontos identificados de produção de bebidas caseiras aqui no município foram fechados, portanto, poderá existir um ou outro, mas os principais a PN já deu tratamento.
Violência Doméstica
Jornal O Crime – Quantos casos foram registados durante o mês em curso?
Adilson dos Santos – Em relação à violência doméstica, temos cinco casos semanais de natureza diversa.
Jornal O Crime – Qual é o mais comum?
Adilson dos Santos – São os de agressões físicas, falta de pensão alimentar para os filhos e pais que agridem os filhos e as esposas.
Violação sexual a menores
Jornal O Crime – Como é encarada esta situação a nível do território?
Adilson dos Santos – Existe sim e maior parte destes crimes são cometidos por pessoas conhecidas da criança… padrastos, tios, entre outros.
Jornal O Crime – Quantos casos ocorrem em Viana?
Adilson dos Santos – Este tipo de crime não ocorre com muita naturalidade, sendo que, em média , podemos receber uma ou duas queixas por semana.
Jornal O Crime – Qual é a medida de prevenção desenvolvida pelo Comando e como tem sido a resposta da comunidade?
Adilson dos Santos – A família tem sido o nosso principal foco. Os pais não devem deixar as crianças passarem muito tempo com pessoas estranhas. Um vizinho não pode mandar a filha da vizinha e esta ir à sua casa quando vive sozinho, pois, um dia esta criança pode ser persuadida com dinheiro ou outra coisa e vir ser abusada. Daí que apelamos o maior controle por parte da família.
Jornal O Crime – Quais são as principais dificuldades que os agentes encontram no cumprimento do dever?
Adilson dos Santos – Na verdade, a população constitui o grande empecilho neste processo. Tem havido muita irresponsabilidade por parte da população no que toca ao cumprimento da ordem, apesar de termos boas relações.
Jornal O Crime – Que apelos quer deixar aos munícipes de Viana?
Adilson dos Santos – A segurança depende do comportamento de cada munícipe, são eles os promotores da sua própria (in)segurança. Mas, quando a segurança não for bem-sucedida e ocorrer um crime, não deixem de dar participação à Polícia com os mecanismos disponíveis.